terça-feira, 3 de agosto de 2010

Criação de Galinhas Caipiras

A galinha caipira por meio da qualidade e palatabilidade dos seus produtos se tornou um dos pratos mais apreciados no Brasil. Ela é criada na quase totalidade dos núcleos agrícolas familiares, alimentando famílias e gerando renda.
Por ser uma ave rústica e capaz de suportar adversidades climáticas e resistir a algumas doenças, se torna uma alternativa principalmente para locais com menor infra-estrutura produtiva.
Este trabalho apresenta recomendações técnicas e inovações tecnológicas que viabilizam a criação da galinha caipira, tornando-a uma ave competitiva, inserindo-a no mercado de produtos agroecologicamente corretos, uma vez que pode ser criada com o uso racional dos recursos naturais renováveis, inclusive com agregação de valor à produção agrícola, agroindustrial e extrativista, já que pode ser perfeitamente integrada com as mais variadas atividades.
É importante salientar que a conservação desses recursos genéticos serão de bom uso no futuro da agropecuária nacional, tendo em vista que novos trabalhos poderão ser realizados em prol do desenvolvimento técnico-cientifico.


ALIMENTOS ALTERNATIVOS PARA GALINHAS CAIPIRAS:


Além dos grãos de milho moído e do farelo de soja, que são os mais largamente utilizados em dietas de frangos, pintos e galinhas, outras opções de alimentos podem ser utilizadas desde que
tenham composição química adequada e sejam isentos de substâncias antinutricionais que dificultem a disgestibilidade e a absorção de nutrientes.
Essas alternativas alimentares geralmente resultam do processamento de produtos comestíveis, por isso são chamados de subprodutos. Também podem ser restos culturais da agricultura ou pecuária, tendo, geralmente, ocorrência sazonal (Fig. 01). Uma vez selecionados para compor a mistura dietética, devem ser limpos e processados, isentos de qualquer toxidade e perfeitamente apropriados para o consumo.
Essas alternativas alimentares geralmente resultam do processamento de produtos comestíveis, por isso são chamados de subprodutos. Também podem ser restos culturais da agricultura ou pecuária, tendo, geralmente, ocorrência sazonal (Fig. 1). Uma vez selecionados para compor a mistura dietética, devem ser limpos e processados, isentos de qualquer toxidade e perfeitamente apropriados para o consumo.
Foto: F.J.V.Barbosa

Fig.1. Misturas dietéticas com níveis diferentes de
inclusão de folha e raiz de mandioca.


Avaliação de desempenho e digestibilidade de frangos caipiras
É de grande interesse que o criador saiba como seu plantel está convertendo a alimentação ingerida em produção, principalmente em carne e ovos. Para isso, ele deve medir o consumo de alimento de cada fase de criação, o ganho de peso das aves encontradas na fase de cria, recria e engorda, e a produção de ovos das aves em reprodução. A esse tipo de avaliação, denomina-se avaliação de desempenho (Fig. 2). De acordo com os resultados, deverão ser feitos os ajustes necessários.
Em criatórios mais especializados, uma outra forma de avaliação da capacidade de conversão é por meio de ensaio de metabolismo (Fig. 3). Nesse caso, o técnico nutricionista terá que ter o apoio de um laboratório que lhe forneça todos os dados relativos à composição química e bromatológica da mistura dietética e dos ingredientes separadamente, para que possam ser comparados com a composição dos excrementos, resultando assim no conhecimento da capacidade das aves de digerir os alimentos.
Foto: M.E. Ribeiro

Fig.2. Frangas caipiras em avaliação de desempenho.

Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.3. Gaiolas metabólicas ocupadas por frangos caipiras.


Inclusão de plantas forrageiras e frutos na alimentação de galinhas caipiras
No SACAC, predomina o sistema de criação de galinhas soltas em piquetes, com as aves buscando considerável porção da sua alimentação nas partes mais tenras das plantas, nos frutos e nos restos de colheita e de culturas, insetos, minhocas, etc. De fato, dada a grande diversidade, frutos e partes das folhas de inúmeras plantas são selecionados e ingeridos pelas aves, contribuindo para a riqueza da sua dieta e para a economia de ração balanceada, reduzindo os custos da criação.
O cultivo e uso mais adequado de plantas possuidoras de maior potencial de produção e valor nutritivo, com certeza, contribuirão para a melhoria do sistema de criação. A vantagem de tal sistema será a alimentação mais barata, saudável, produzida na propriedade e que resultará no aspecto e sabor peculiar "caipira" da carne e ovos. A forragem verde, pelo seu conteúdo de vitamina A (VEIGA, 2005), faz com que a gema do ovo tenha a cor amarelo-avermelhada, característica do ovo caipira.
É necessário frisar que, para a alimentação das aves, as plantas precisam ter elevado valor nutritivo, baixo teor de fibra e alta digestibilidade. Mesmo quando alimentadas com plantas de elevada qualidade, as aves, devido às suas exigências nutricionais, necessitam de complementação da dieta com ração balanceada. O valor nutricional varia entre diferentes plantas e depende da fertilidade do solo. Em uma mesma planta, depende da parte considerada (folhas, ramos e frutos) e da sua idade. Folhas tenras são mais ricas e nutritivas que folhas maduras, com maior teor de fibra.
É comum o uso de restolhos de culturas, como as raízes e as folhas de mandioca (Manihot esculenta Cranz), (Fig. 4), da batata-doce (Ipomoea batatas), de frutos como a abóbora (Cucurbita pepo L.), mamão (Carica papaya L.), banana (Musa spp), caju (Anacardium occidentale), melancia (Citrullus vulgaris Schrad) e manga (Mangifera indica), além de uma infinidade de hortaliças.
Foto: F.J.V.Barbosa

Fig.4. Plantio de mandioca no ponto de desbaste.
Essas alternativas alimentares podem ser oferecidas verdes ou processadas como farinha. Isso vai depender da quantidade, das condições de consumo e de armazenamento. No caso de leguminosas como o feijão-guandu (Cajanus cajan), a leucena (Leucaena leucocephala) e a sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia Benth), pau-ferro (Caesalpinia ferrea) e algaroba (Prosopis juliflora), dentre outras, os folíolos podem ser esidratados, moídos e misturados à dieta, pois são boas fontes protéicas (Fig. 5 a 9).
Foto: G.M.Ramos

Fig.5. Leucena em época de floração.
Foto: M.S.Bona Nascimento

Fig.6. Árvore de sabiá em floração.
Foto: M.S.Bona Nascimento

Fig.7. Algaroba em época de floração.
Foto: M.S.Bona Nascimento

Fig.8. Banco de proteína de feijão-guandu.
Foto: M.S.Bona Nascimento

Fig.9. Pau-ferro em época de floração.
Outra forma de as galinhas caipiras terem acesso a alimento verde é através do uso de áreas de pastagens, compostas de plantas herbáceas nativas ou cultivadas. Nessas áreas, além de ingerir as partes mais tenras das plantas, as aves também se alimentam de alguns insetos que são bastante ricos em proteína. As gramíneas mais adequadas são as de folhas finas e raízes firmes, difíceis de serem arrancadas pelas aves. As partes mais tenras de outras gramíneas, como o capim-elefante, podem ser fornecidas picadas (Fig. 10 a 14).
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.10. Piquete composto por vegetação nativa.
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.11. Piquete composto por pastagem cultivada.
Foto: M.S.Bona Nascimento

Fig.12. Área de capineira de capim-elefante.
Foto: M.S.Bona Nascimento

Fig.13. Área cultiva com capim-tifton.
Foto: M.S.Bona Nascimento

Fig.14. Área cultivada com capim-tanzãnia. 
No SACAC, principalmente quando se usa alimentação à base de mandioca, a pigmentação da carne e ovos pode ser melhorada com a utilização plantas pigmentantes, na ração, por exemplo, as sementes de urucum (Bixa orellana L.) (Fig. 15).
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.15. Sementes de urucum moídas.



INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS:


Na perspectiva de provocar o mínimo de danos ao meio ambiente, de aproveitar racionalmente os recursos naturais renováveis e usar e reutilizar de forma criteriosa materiais disponíveis na propriedade, o SACAC também procura se adequar ao poder aquisitivo e à criatividade do criador.
O objetivo de se utilizar materiais alternativos não diminui a importância a ser dada aos aspectos de funcionalidade das instalações, de modo a garantir a limpeza e a higienização corretas (Fig. 1 a 3). Outro ponto importante é o conforto térmico das aves, principalmente em zonas que apresentem temperatura e umidade elevadas. Para isso, recomenda-se que o local escolhido para construção da estrutura de produção seja bem drenado, mais ou menos plano, ventilado, de fácil acesso e afastado de outros tipos de criações de animais. Quanto à localização e ventilação, é importante que o aviário se coloque em posição posterior a casa do criador, pois isso evitará a presença indesejável de possíveis odores e insetos resultantes do processo produtivo (COMEÇANDO..., 2004).
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.1. Cercas construídas com estacas de sabiá.
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.2. Telado interno confeccionado com varas.
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.3. Cobertura do aviário feito de palha de
babaçu. 

No modelo do aviário completo, no qual o criador desenvolve práticas de manejo em todas as fases de criação das aves (cria, recria, engorda e reprodução), a área total sugerida é de 1.744 metros quadrados (Figura 4). Dessa área, 28 metros quadrados são destinados ao aviário coberto e 1.716 metros quadrados, a piquetes onde crescem plantas nativas ou cultivadas, de preferência frutíferas ou outras árvores de interesse do criador e que não produzam material tóxico para as aves.
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.4. Layout do modelo completo do SACAC.
A área construída deve apresentar detalhes que favorecem tanto a ventilação térmica como a higiene, tornando o ambiente agradável para as aves. Com esse objetivo, recomenda-se um pé direito de 2,10 metros de altura, composto de rodapé (30 cm) e área vazada (180 cm), limitada por tela de arame ou varas numa malha capaz de manter contidas as aves e de protegê-las de possíveis predadores.
O rodapé poderá ser construído com tijolos, tábuas, taipa ou outro material disponível. A altura de cumieira poderá variar, dependendo do material de cobertura. Se a opção for por telha, a inclinação será de 30º, enquanto que para a cobertura de palha se sugere uma inclinação de 45º. Quanto à formatação da cobertura, essa poderá ser tanto de quatro como de duas águas, desde que os beirais impeçam a penetração de raios solares nas horas mais quentes e as rajadas de ventos na época das chuvas. Com a mesma finalidade, poderão ser usadas cortinas, desde que não escureçam o interior das instalações. Em média, os beirais medem 60 centímetros e obedecem à mesma inclinação do teto (Fig. 5).
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.5. Fachada do aviário completo do SACAC.
O madeiramento estrutural e de cobertura poderá ser redondo ou serrado, dependendo da disponibilidade da região. O importante é que suporte firmemente o peso da cobertura e a força dos ventos.
A área de reprodução deve ter seis metros quadrados, dividida em zona de postura (3,75 m2) e zona de incubação (2,25m2), com capacidade para abrigar treze aves reprodutoras, sendo 1 macho e 12 fêmeas. Tanto na zona de postura como na de incubação devem ser colocados à disposição das aves comedouro, bebedouro e ninheira, esta com capacidade de abrigar quatro matrizes. As aves também devem ter acesso a um piquete com área de 40 metros quadrados, composto de arborização nativa ou exótica (Fig. 6 a 9).
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.6. Vista lateral da área de reprodução.
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.7. Planta baixa do aviário.
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.8. Piquete de reprodução.
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.9. Ninheiras confeccionadas com tábuas e
enchimento de capim seco. 

No aviário, as áreas destinadas à cria e recria localizam-se no lado oposto à área de reprodução. A área de cria tem 2,25 m2 e possui capacidade de abrigar 60 a 70 pintos, com idade variada entre 1 e 30 dias. Nela estarão disponíveis comedouro (bandeja), bebedouro e berçário dotado de fonte de calor para abrigar os pintos recém-nascidos durante a primeira semana de vida. Após a primeira semana, os pintos terão acesso livre a um solário com as mesmas dimensões da área destinada à fase de cria. A área de recria tem a função de abrigar os pintos vindos da fase de cria, ou seja, com 31 a 60 dias de idade. Compreende 3,75 m2, com bebedouro e comedouro. Nessa fase, os pintos terão livre acesso a um piquete arborizado, com 20,00 m2 (Fig. 10 a 12).
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.10. Pintos recém-nascidos alojados em berçário.
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.11. Pintos acomodados na área de cria.
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.12. Pintos ciscando no solário. 
No centro do aviário, com 16,00 m2, encontra se a área destinada à fase de engorda ou terminação, com capacidade de abrigar as aves na fase de recria, com 61 a 120 dias. Nessa área, estão disponíveis bebedouros, comedouros e poleiros, tendo as aves livre acesso a um piquete arborizado, com área de 1.656 m2 (Fig. 13 a 15).
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.13. Área interna do aviário dando destaque
ao poleiro.
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.14. Frangos na fase de engorda.
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.15. Piso revestido com barro compactado. 
Normalmente, a área coberta de engorda tem a capacidade de abrigar 278 aves, porém, esse número pode ser ampliado para cerca de 400 cabeças dependendo do manejo reprodutivo. Torna-se importante que o criador também possa dispor de um outro compartimento em local afastado dessa instalação para abrigar, separadamente, aves que serão introduzidas no plantel, animais descartados ou, em caso extremo, aves doentes.
O piso do aviário pode ser cimentado, revestido de tijolo deitado e mesmo de chão batido, compactado de forma que impeça que as aves escavem. Deverá ter como forro um substrato composto de serragem de madeira, capim seco triturado, casca de arroz etc. Esse substrato não pode ser tóxico e nem provocar doenças respiratórias às aves, por excesso de pó, e tem por finalidade reter a umidade resultante do metabolismo e respiração das aves (Fig. 16).
As cercas, para delimitar as áreas de manejo e oferecer proteção contra possíveis predadores, podem ser confeccionadas de acordo com a disponibilidade de material. Utilizam-se telas, estacas, arame farpado, varas, etc., dependendo da disponibilidade. É desejável que o material usado tenha bastante durabilidade e seja suficientemente forte para suportar ventos e alguns danos indesejáveis.
Quanto aos ninhos, o material a ser utilizado vai também depender da disponibilidade e criatividade do criador. Tábuas e varas são as mais recomendadas, pois permitem uma limpeza sistemática com a remoção temporária dos ninhos para o exterior das instalações, visando melhor limpeza. A renovação de forro dos ninhos, a intervalos máximos de 30 dias, também se faz necessária. Os ninhos são forrados, geralmente, com o mesmo material utilizado como substrato no piso. A sensação de conforto e segurança influi no volume de postura e na capacidade de incubação (Fig. 16).
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.16. Ninheiras confeccionadas com varas.
Os poleiros, geralmente, só são instalados na área de engorda, uma vez que um maior número de aves é alojado e ocorrem diferenças de porte, tendo em vista o período de 60 dias preconizado para essa fase de criação. É comum observar que o poleiro é mais utilizado pelas aves maiores, principalmente quando a temperatura está mais alta.
Estão à disposição do criador de galinhas caipiras, nos mais diversos pontos do país, modelos de comedouros e bebedouros, manuais ou automáticos, que podem ser largamente utilizados nas condições do SACAC. Porém, fica a cargo da criatividade do criador utilizar modelos artesanais de bebedouros e comedouros, desde que as condições de sanidade e funcionalidade sejam mantidas. No caso específico do SACAC, a opção por bebedouros confeccionados com garrafas pets e comedouros feitos com varas de cano plástico em forma de calha foi bem sucedida, facilitando a higienização quando da renovação sistemática da água e da mistura dietética (Fig. 17 e 18).
São equipamentos imprescindíveis às atividades diárias do aviário a máquina forrageira ou moinho para triturar os alimentos, balanças para pesagem, tanto das aves como dos ingredientes dietéticos, e o ovoscópio, para avaliar a qualidade dos ovos, principalmente no processo de incubação.
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.17. Comedouro tipo calha na altura do dorso
da ave.
Foto: F.J.V. Barbosa

Fig.18. Bebedouro de pressão na altura do dorso
da ave. 


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